Os filósofos Montaigne e La Boétie foram precursores do modo como os pensadores políticos contratualistas (sendo os principais entre eles Hobbes, Locke e Rousseau) trataram a questão da igualdade — a partir da ideia de uma igualdade a que os seres humanos teriam direito por natureza ou ao menos possuíam antes de se organizarem em sociedades sob a autoridade de governos e leis criadas pelos homens.
Para defenderem sua linha de raciocínio, Montaigne e La boétie se apoiaram no que puderam aprender sobre o modo de vida dos indígenas tupis-guaranis das terras do Brasil, recém descobertas pelos portugueses. Fundaram suas ideias éticas e políticas na comparação crítica entre esses povos ditos "primitivos" e as sociedades ditas "civilizadas" de sua época — que na verdade acabavam bastante depreciadas nessa comparação.
Os contratualistas construíram com base nessa ideia um raciocínio que colocava essa igualdade no fundamento da própria existência dos governos e das leis. Usaram isto seja para fundamentar a existência de centros oficiais de autoridade, governo e formação de leis, seja para criticar os centros oficiais existentes, dizendo que se desviaram do direito natural à igualdade que estava no seu fundamento.
Mas em Montaigne e La Boétie, essa noção de uma igualdade primitiva entre os homens ainda era utilizada de outra maneira: servia apenas como uma ferramenta para a crítica radical de toda e qualquer forma de autoridade ou poder de uns sobre outros e também para a crítica da falsidade e da hipocrisia nas sociedades de sua época. Quanto à possibilidade de superar tudo isso e de algum modo recuperar a igualdade e a liberdade primitivas que haviam sido perdidas, Montaigne e La Boétie mantinham um impasse: não é possivel a partir deles decidir se isto seria realmente possível ou não.